carro

Meu pai era mecânico de carros. Sempre me levava pra oficina quando podia. Às vezes eu ficava lá, sentado no canto, olhando ele remexer nos fios, desparafusar algumas peças, desmontar e montar um carro inteiro pra fazer funcionar. Às vezes ele me chamava pra ajudar e eu ficava lá com a cabeça dentro do capô, vendo o emaranhado de fios, segurando uma lanterna pra iluminar o motor.

Meu pai dizia que as pessoas são muito parecidas com os carros, eu demorei anos pra entender isso, achei que era uma brincadeira, mas com o passar do tempo descobri que era muitas vezes verdade.

Como os carros as pessoas quando são novas atraem todo o tipo de atenção, todo mundo gosta. Não novas só quando nascem, mas novas quando chegam em nossas vidas, nesse momento elas são tudo o que queremos.

Como os carros elas precisam de combustível, algo que de a elas um motivo pra seguir em frente, pra continuar rodando a estrada. Pessoas também têm espelhos e adoram olhar pra trás e muitas vezes se esquecem do vidro que mostra o caminho todo que tem pela frente. Às vezes elas perdem a direção, aceleram demais e não aproveitam a paisagem ou andam devagar e chegam atrasadas.

Como os carros, com o passar dos anos, elas se desgastam e às vezes quebram e não conseguem mais andar. Meu pai descobriu que elas não se arrumavam sozinhas e que era quase sempre preciso um mecânico pra juntar alguns fios e por as coisas de volta no lugar. Em algumas ocasiões, infelizmente, não era possível concertar.

Como os carros às vezes elas são trocadas, são deixadas por falhar, por terem alguns arranhões, amassados ou um pneu furado. Então estas pessoas são trocadas, por carros mais novos, mais potentes, melhores ou não.

Meu pai nunca soube lidar bem com pessoas, apesar de ser um ótimo mecânico de carros.

fim

Autor: Emerson Silva